Joary Jossué Carlesso[i]
Palestra ministrada na 3ª Oficina de Discipulado da AD Joinville em 22/02/2013
“Depois que toda aquela geração foi reunida a seus
antepassados, surgiu uma nova geração que não conhecia o Senhor e o que ele
havia feito por Israel.” (Juízes 2.10 - NVI)
I - INTRODUÇÃO
Ao lermos a Bíblia
nos deparamos com o questionamento do Salmista: Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo? (Salmo 11.3). Atualmente, esta
questão está amplificada. Vivemos em um mundo conturbado, onde os fundamentos
da ética e da moral estão abalados, e porque não dizer, em alguns casos,
destruídos.
Neste contexto, como
Igreja, o que devemos fazer?
A Igreja não pode
ficar apática diante de tudo que acontece no mundo, pois sua missão como sal
da terra e luz do mundo é influenciar, modificar o ambiente (Mt. 5.13-16).
Só através de verdadeiros discípulos de Jesus, comprometidos em viver
integralmente o Evangelho é que a Igreja vencerá toda a corrupção deste mundo
atual.
O entendimento que
muitos têm é que os cristãos vão à Igreja. As Escrituras nos
afirmam que eles são a Igreja (1 Co. 6.19). Onde um cristão verdadeiro estiver
presente, ali estará a Igreja. E, o crente, como Igreja, deve sempre estar
cumprindo sua missão (Mt. 28.19-20).
Diante disso, fica
a pergunta que tenho ouvido de muitos líderes: Por que o DISCIPULADO é tão importante?
Bem,
vejo que o discipulado é, de longe, a ferramenta mais importante para preparar os
crentes para influenciar positivamente este mundo. Não existe outra maneira da
Igreja crescer, em quantidade e com qualidade, se não for através do
Discipulado. É no discipulado que os novos convertidos são orientados
para enfrentarem os desafios do presente século e é onde são treinados para o
serviço do Mestre.
O
Discipulado é extremamente importante para a Igreja hoje. Só através do trabalho
do Discipulado é que a Igreja poderá vencer os desafios que nos são
apresentados na atualidade.
II – PRINCIPAIS
DESAFIOS DO NOSSO TEMPO
Como servos de Deus
nós enfrentamos desafios nunca antes encarados na história da Igreja, desafios
estes que são peculiares da época em que estamos vivendo.
Para mostrar a
importância do discipulado hoje, listo alguns dos principais desafios que
Igreja enfrenta nos dias atuais.
1. Uma geração que não conhece ao Senhor[ii]
Certo educador cristão disse que esta geração pós-moderna só pensa em
três pessoas: “Em primeiro lugar eu, em
segundo eu e em terceiro eu”. As pessoas estão cada vez mais
individualistas. Assim como nos dias dos Juízes (Jz. 2.10), surgiu uma geração
que não conhece o Senhor. Características das pessoas deste tempo:
a) Uma geração desorientada. Eles não querem um mapa: eles precisam de orientação pessoal. Continuamos a lhes
oferecer novos mapas – eventos –, quando na verdade eles estão implorando por
orientação pessoal.
b) Uma geração temerosa. Quais edifícios essa geração teme? Famílias, instituições políticas e a
igreja. Exemplo: até a década de 90, as
novelas em que a mãe e o pai trabalhavam juntos a fim de prover um refúgio
seguro para seus filhos. Hoje, foram substituídas por outras que mais refletem
a vida real (?) onde pessoas moram juntas pela amizade, ou pessoas do mesmo
sexo “casadas” e etc. Uma vez que o edifício chamado família desabou, as
pessoas sentem medo de voltar para ele. Temos como exemplo nos Estados Unidos o
seriado Friends e no Brasil as
telenovelas e o seriado Malhação.
c) Uma geração
sem identidade. Os jovens, especialmente, buscam
identidades na música, no cinema e no esporte e adotam para si.
Esta geração,
talvez como nenhuma antes dela, está desesperada por um discipulado. A essência em ser
um discípulo está em passar algum tempo com o próprio Mestre. E isto é o que
conseguimos como discípulos de Jesus – um convite a sua casa, onde podemos
ficar com ele, ouvi-lo, fazer com que ele nos ouça e nos tornarmos seus amigos.
Quando apresentamos
este retrato do cristianismo – e não há outro que seja completo ou exato sem o
discipulado – estas pessoas desconsertadas e desesperadas anseiam por ser
incluídos nesse quadro.
Elas podem estar
desnorteadas, mas sabem que a resposta que estão procurando é suficientemente
grande para dar-lhes segurança na hora do terremoto.
2. O desafio da secularização
Segundo
R. N. Champlin secularização “vem do latim saeculum,
“pertencente a uma era”. Nos círculos religiosos recebe o sentido de “aquilo
que pertence ao mundo de nosso tempo”[iii].
Desde a era medieval, este termo foi designado para aquilo que não estava
ligado à religião, ou que fosse contrário à própria religiosidade.
A
secularização procura tirar da consciência coletiva tudo o que é religioso ou sobrenatural.
Para os secularistas apenas aquilo que é material é a verdadeiro. Eles vivem
apenas para as necessidades do hoje.
Dentro
deste contexto surgem as ideias humanistas, que dizem que é possível fazer o
bem sem estar envolvido com Deus, com a Igreja ou com a própria religião. O
secularismo exclui Deus do mundo e da vida humana diária. Assim, as pessoas
buscam equivocadamente o bem à parte de Deus.
Este
é um dos grandes desafios do nosso tempo: uma sociedade que nega a Deus, e que
aceita a religiosidade apenas no âmbito pessoal e subjetivo. Se antigamente
combatíamos a “religião”, do ponto de vista do catolicismo romano e suas
heresias, tínhamos um ponto de partida para iniciar o diálogo e apresentar
Jesus. Agora, na era pós-moderna, o desafio da secularização torna-se um grande
impedimento, pois o assunto da fé foi relegado ao âmbito particular e cada um
segue a sua própria verdade. Certo dia li em uma camiseta a seguinte frase:
“não me siga, também estou perdido!”.
O
pior é o que secularismo pós-moderno acaba repercutindo na vida de muitos
crentes. Certos “cristãos” dos dias atuais tendem a fazer a separação entre o
eclesiástico e o secular, entre vida na Igreja e vida privada. E o resultado
são pessoas que tem atividades na Igreja, professam o cristianismo, participam
da Santa Ceia, mas fora da Igreja praticam coisas que não agradam a Deus,
dizendo que na Igreja deve se comportar de um jeito, e na vida secular, de
outro.
A
causa deste dualismo, desta “bipolaridade espiritual”, é que este problema não
foi tratado no início, quando a pessoa se decidiu para Cristo. Neste aspecto, o
discipulado vem como uma ferramenta capaz de enfrentar e curar este desvio. A
importância do discipulado se dá em preparar o novo convertido para enfrentar a
tendência secularizante da sociedade em que ele vive.
Através
do Discipulado, o neoconverso vai saber que tudo o que ele fizer deve ser para
a glória de Deus (1 Co. 10.31). E onde ele estiver ele deve viver para Deus.
Assim, um novo convertido se torna um verdadeiro discípulo de Jesus que assume
sua cruz e segue a Cristo (Lc. 9.23). Deus está presente em todas as áreas da
vida humana (Sl. 139).
3. O desafio do pluralismo religioso
Se de um lado
enfrentamos o desafio do secularismo, por outro lado enfrentamos o pluralismo
religioso. A filosofia do pluralismo religioso diz que devemos tolerar as
diferenças, que a espiritualidade é uma coisa boa, mas cada um pode buscar à
sua maneira. Fala-se até em “espiritualidades”. É comum hoje no Brasil pessoas
que vão, por exemplo, à Igreja Universal às terças para a sessão do descarrego,
nas quartas-feiras na reunião de doutrina do espiritismo kardecista, nas
quintas-feiras às nossos cultos da vitória, na sexta-feira às encruzilhadas e
aos terreiros de macumba, à missa católica aos sábados e para finalizar a
semana, nos domingos pela manhã (pasmem!), à nossa Escola Dominical.
As pessoas estão
confusas. Está sendo pregado o ecumenismo “cristão” pelo catolicismo. Abrem-se novas
Igrejas como se fossem franquias de lanchonetes fast food. Igrejas ditas
cristãs são verdadeiras aberrações. Há poucas quadras de minha casa encontro
“igrejas” onde jovens entram no templo como pessoas normais e saem tatuados,
com piercings e alargadores de orelhas. Em grandes centros se proliferam
comunidades “cristãs” para homossexuais... tudo isso é prova que o pluralismo
religioso está tomando conta da sociedade. Além disso, Igreja hoje está sendo
atacada diuturnamente pelas seitas, heresias e outras religiões.
Como os novos
convertidos vão sobreviver a este contexto?
Os novos decididos estarão
livres do pluralismo religioso unicamente através de um trabalho sério de
integração e discipulado, onde eles sejam orientados através de um ensino
sistemático da Palavra de Deus e debaixo da unção divina.
Eles precisam
conhecer a Palavra de Deus, que é a fonte para eles beberem. Meu pastor
presidente, Sérgio Melfior, usa a seguinte frase: “Evangelizar é dar um copo
com água, discipular é mostrar a fonte”. Quanto o novo crente descobrir a fonte
(Palavra de Deus) através do discipulado, o assédio de satanás não o fará se
perder, pois ele estará “edificado sobre a rocha” (Lc. 6.48).
III – BENEFÍCIOS DO DISCIPULADO PARA A IGREJA
“A decisão é 5%; o seguimento é 95%” (Billy Graham).
Além da vitória sobre todos os desafios elencados
no ponto anterior, existem outros benefícios para a Igreja no Discipular[iv]:
a) Discipular é
uma das maneiras mais estratégicas de se ter um ministério pessoal ilimitado.
Pode ser feito em qualquer
tempo e lugar, para qualquer pessoa ou grupo.
b) Discipular é
o mais flexível dos ministérios.
O discipulado é um trabalho
com diretrizes, mas de aplicação extremamente flexível.
c) Discipular é
a maneira mais rápida e segura de mobilizar todo o corpo de Cristo para
evangelizar.
Discipulado se torna tanto
o resultado da evangelização,
quanto uma forma de realizar a
evangelização.
d) Discipular
tem um potencial de mais longo alcance para produzir frutos do que qualquer
outro ministério.
“Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na
minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos” (João 8.31).
e) Discipular
propicia à igreja local excelentes líderes.
Líderes maduros,
centralizados em Cristo e orientados pela Palavra.
f) Discipular é
um antídoto contra as heresias.
g) Discipular
acelera o crescimento espiritual de quem discipula e de quem é discipulado.
PARA
REFLETIR:
“Todos os gigantes de Deus foram homens fracos que
fizeram grandes coisas para Deus, porque se estribaram no fato de Deus estar
com eles”. (Hudson Taylor)
[i]
Ministro do Evangelho (CIADESCP) e Pastor auxiliar da IEADJO – Sede.
Coordenador do Depto. de Evangelismo e Discipulado da AD em Joinville (SC).
E-mail: joaryjc@hotmail.com
[ii] BREEN, Mike. KALLESTAD, Walt. Uma Igreja Apaixonante. Rio de
Janeiro. CPAD. 2005.
[iii]
CHAMPLIN, Russel Normam & BENTES. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia.
São Paulo: Hagnos, 2002. Volume 6. p. 123.
Fonte: http://discipuladojoinville.blogspot.com.br/2013_02_01_archive.html
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